Bons motivos para se nunca deixar de comer carne

Os que conhecem o autor deste blog há algum tempo sabem que há coisas inequívocas a se dizer sobre ele. Poderia-se elencar uma lista infindável de características horríveis, entre as quais a gagueira, o ódio cego que se lhe acomete de tempo em tempo, sua pseudo-itelectualidade, sua boca suja, a vontade de humilhar o interlocutor, o talento para digressões irrecuperáveis, e a facilidade com que cai em modismos, cujas provas irrefutáveis são este blog e o fato de ter sido vegetariano por quase 8 anos - embora possa depor em seu favor o fato de que àquela época eles não eram assim tão abundantes. Mas enfim, de tudo que se pode dizer a meu respeito, não está na lista incluso o fato de que vez ou outra tenho arroubos de prestar um bom serviço a quem interessar possa. E, justamente com este fim, apresento agora um série de motivos que servem senão para, a quem segue ou deseja seguir o regime da abstinência de carne, demovê-lo de o fazer. Tivesse um bom amigo me lembrado de algum deles, talvez na história de minha vida ocorressem alguns capítulos mais aprazíveis.

Vamos começar com os falsos motivos: são aqueles que todo vegetariano cita, mas ninguém realmente adota uma nova dieta justamente por isto. Portanto, passaremos muito rapidamente por eles. Sempre que a destruição do meio ambiente, a substituição das florestas nativas pelos latifúndios pecuários, o poder da grande indústria em detrimento dos pequenos produtores, ou qualquer argumento semelhante ousar se imiscuir no discurso, prontamente devemos nos lembrar de que todas as grandes marcas têm também a sua linha vegetariana, de que pra suprir a nossa demanda de proteína muito mais soja teria que ser plantada, enfim, que nada no plano econômico realmente mudaria, a não ser a alta e a queda de determinadas ações na bolsa de valores. Toda esta bobajada pode ser resumida pela expressão "O tio que planta não é mais bonzinho que o tio que cria boi".

Quando alguém falar na morte e sofrimento dos animais indefesos, o mais indicado mesmo é mandar esta pessoa ao caralho. Entretanto, como alguns dos leitores preferem essas embates sem graça aos quais o politicamente correto dá o nome de debate limpo, então vale lembrar que a morte faz parte do ciclo da vida, bem como as cadeias alimentares, e que nós vivemos numa economia capitalista. Sofrimento demanda tempo, e mais eficiente é quem produz mais em menos tempo. O bife na sua mesa não sofreu porque eu estava na fila comprando o meu.

Enfim, vamos agora aos motivos reais. Existem dois tipos de seres humanos: os que merecem e os que não merecem comer carne. A verdade é: há o tipo fraco, pobre, e se este deixar de comer carne, pouco fará falta. O tipo fraco faz cara feia para todas as divinas possibilidades que o consumo de carne pode oferecer. Pergunte-lhe sobre as partes mais nobres, aquelas sobre as quais é necessário conquistar o direito à deglutição, e este tipo doentio enjoará, suas feições se tornarão pálidas como às de uma grávida durante uma viagem de navio. Conte-lhe que coelho, paca, tatu, tudo que é pequeno, aprazível ao olhar, e serve como veludo ao tato, também encaminha o paladar a níveis mais elevados, e chorará o ímpio. Ora, não há aqueles que, tal é o grau de sua doença, são incapazes de segurar o osso engordurado do frango, e perdem o duplo prazer de primeiro ter um verdadeiro contato com o alimento, segundo de sorver o molho da vitória dos próprios dedos (pode existir ato mais belo de narcisismo?)?

Por outro lado, é terrível quando o fraco convence o forte a se juntar em sua doença. Triste é constatar que toas aquelas línguas, testículos, rins, cérebros, orelhas, rãs, jacarés, lagartos, javalis, cobras perderam mais um raro admirador.