No começo do ano eu havia confessado algo que poderia ser estranho ao meu leitor, dada a minha escrita envolvente e minha sagacidade aguda. A confissão que faço agora, entretanto, não deve ser surpresa a nenhuma das minhas leitoras: eu sou muito nerd. Mas só esta semana eu tive pista do tamanho real da nerdice, e é tanta que merece repetição com caixa alta de caps lock, negrito e cor diferenciada: MUITO nerd. Como este também, embora mal-e-má, se pretende um espaço de utilidade pública, posto a seguir um guia rápido para a leitora descobrir se o nível de nerdice do seu namorado periga atingir níveis preocupantes:

a) Assim como quem não quer nada, sugira que ele baixe um jogo hentai das antigas, como Cobra Mission ou True Love. Bom, se ele souber o que é hentai, há alguma chance dele ser nerd (e de ter a palma da mão cabeluda, como diria o populacho). Ele vai baixar e descobrir que, nesses jogos antigos, você precisa realmente jogar antes de ver alguma putaria. Se ele continuar jogando pra chegar até as cenas eróticas, então ele é nerd, porque vamos combinar: todo esse trabalho quando nós sabemos para que realmente serve a grande rede? ("Se tirássemos toda a pornografia da internet restaria um único site, e o endereço seria bringbacktheporn.com", Dr. Perry Cox) Agora, se ele continuar jogando, e fizer comentários sobre como o sistema de jogo é interessante, como a inteligência artificial funciona, como os gráficos são bons para um jogo de 95, enfim, se ele se interessar por qualquer outra coisa diversa do real motivo do jogo existir, então ele é muito nerd.

b) Mostre para ele o vídeo do moço que hackeou a ROM de Chrono Trigger para pedir a namorada em casamento:

(tipo este)

Se ele sabe o que é ROM, ou Chrono Trigger, ou que é possível hackear ROMs; sabe o que são sprites, e que prováveis sprites e programas ele usou pra montar aquela fase extra, então ele é nerd. Se em vez dos ous, a frase com e se encaixa na descrição dele, ele é muito nerd, e você nem precisa cumprir a última parte do teste. Se você não acredita em mim, leitora, vá em frente e termine, agindo mesmo contra o fato de eu nunca lhe ter dado conselho ruim. Enfim, mostre o vídeo para ele, e se a reação for emoção pelo ato romântico, pois bem, ele é nerd. Se a reação for emoção porque o midi é realmente bonito, meu deus, Chrono Trigger realmente tinha uma trilha fantásica. Eu avisei, muito nerd.

c) Faça-o ouvir as seguintes duas versões de One Winged Angel: original e orquestrada. (você as pode encontrar aqui durante os próximos trinta dias). Se ele murmurar alguma(s) da(s) seguinte(s) opções: Sephiroth (pode ser que ele pronuncie sefirós ou sefiróti), último chefe, super nova, knights of the round, Nobuo Uematsu... pode anotar, ele é nerd. Se ele disser que gosta mais da original, seja lá qual o motivo, MUITO nerd, para além de qualquer reparação.

Desnecesário dizer que caso você aplique o teste e ele nem saiba do que se trata nada de nenhum dos assuntos, ele não é nerd. A má notícia é que provavelmente você está namorando uma anta, cara leitora, mas os filhos-de-puta-burros são assunto para outras postagens. Esta é dedicada àquelas sofredoras cujo namorado recebeu o carimbo nerd com louvor e honras, classificado como muito nerd em a, b e c. Chore, minha cara confidente, chore que você precisa, embora seja um choro inútil. Nem o se o seu choro cobrisse os vinte e cinco por cento de terra seca que nos são reservados, e avançasse para cobrir os oceanos; nem isso seria capaz de curar a nerdice do seu parceiro. Sim, ele atingiu aquele estado crítico em que tudo o que acontece ao redor é automaticamente traduzido em dados e planilhas de Vampiro: A Máscara. (porque d20 e GURPS são bons, mas Storyteller é o que dá melhor conta de ações sociais)

Neste caso, só há um algo a se fazer: por favor, peça para ele entrar em contato comigo, porque eu me afastarei do meu grupo de RPG durante os próximo meses, e seria uma pena que uma campanha tão boa terminasse antes do fim por causa de falta de jogadores. (E é bom que ele saiba mestrar, porque nós temos um sistema de revezamento)

Informe

Caros leitores,

Venho por meio desta informar que o windows messenger (sem live) é um filho de uma quenga, e merece passar a eternidade chupando rola suja de traveco.

Grato pela vossa atenção, sempre seu

Emil.

Como lidar com imbecis -- algumas dicas úteis

Hoje, cara leitora, voltamos à programação regular deste blog: reciclar bobagens que eu escrevi por aí enquanto brigava com um zé mané qualquer. Pois é justamente essa a vantagem de se ter um blog: os zé manés quaisquer podem não captar o meu delicioso estilo, mas com o meu seletíssimo público raramente o dispêndio de energia é inútil. Segue, então, uma mui bem elaborada e utilíssima lista de conselhos para aqueles que almejam, um dia, dominar a arte de ofender em tantos níveis da linguagem quanto a escrita internética oferece:

Por vezes muito mais vezes do que gostaria, neste mundão velho sem porteira que é a internet, você esbarrará com acéfalos desocupados. O botão "apagar" estará sempra a sua disposição, mas às vezes o energúmeno em questão simplesmente não parará de spammear sua página. Ora, é muito simples: justamente para isso existe o botão ignorar. Entretanto, mais vale não usar o botão, e deixar claro que isto seria um favor, um ato de bondade, algo que o pouparia de um pouco de humilhação. Não, deixe-o saber que sua página continua aberta, e que você está esperando a resposta.

Deixe claro também que não importa o quão ridículas são as coisas que vocês faz. Aliás, vale aqui o uso da fórmula "para esta discussão, admitiremos que tudo o que eu faço é ridículo". É um excelente recurso para acabar com a mínima importância que o infeliz se dê. Ver alguém que, por exemplo, considera blogs perda de tempo, caçar blogs, descobrir seus donos, ir até o orkut e sujar suas páginas de scrap está tantos níveis abaixo da perda de tempo simples e regular que nenhuma língua no mundo -- acredito eu -- tem palavra para classificar tamanho emprego de energia em tão inútil contenda. Ainda podemos, entretanto, definir a condição de quem executa a façanha, e eu gosto muito do termo "cropocefalia crônica".

Enfim, após um texto relativamente longo -- para os padrões do orkut, claro -- que tem como função mostrar que o alvo nunca escreverá tão bem quanto você e servir de base para sua lista de impropérios (que também podem reunir as funções de humilhar, ofender e obrigar tais megatérios a consultarem a wikipedia), faça-o entender que, para ele, é impossível acompanhar o seu texto, e portanto, num ato de piedade, você deixará uma imagem, um desenho, pra que ele realmente possa entender, sem ter que fazer força, o quanto todos nós nos importamos com a opinião dele:

Do interesse amoroso

Ai, ai... discutia eu esta semana sobre a possibilidade/impossibilidade da amizade entre pessoas que têm interesse romântico uma pela outra e por qualquer motivo não podem chegar às vias de fato. Devo confessar que muito recentemente eu mudei minha opinião sobre o assunto, e para que a leitora que me conhece há pouco tempo entenda o porquê, faz-se necessário que eu recue um pouco no tempo (ah, a escrita! Os físicos gastam suas vidas pensando nos paradoxos gerados pela viagem temporal, sonham com a possibilidade de um dia, ah, talvez um dia... mal sabem eles que ela já exista há sete mil anos, e atende pelo nome de escrita... mas divago) e conte que e como nem sempre fui esta combinação quase irrestível de charme e sensualidade (e sim, naqueles tempos eu ainda achava que modéstia era virtude; muita coisa mudou desde então, e eu só tenho a agradecer -- a mim mesmo, que me fiz abrir os olhos). Enfim, ao leitor que me conhece desde os tempos em que podíamos nos chamarmos mutuamente de ouvintes, e éramos leitores principalmente de Claremont, McFarlane, Bagley e Serpieri (deste, inconfessos) é aconselhável que pule o próximo parágrafo, salvo tenha nas papas gustativas aquela vontade de nostalgia.

Bom, cara leitora, como eu já lha permiti entrever acima, durante minha adolescência eu fui terrivelmente nerd. Se agora escrevo de maneira tão aprazível, é porque pratico desde então, no mínimo. Sem contar os finais de semana gastos nas mais diversas leituras, fosse alta literatura, fosse a nobre e subestimada arte dos quadrinhos, fosse mesmo revistas dessas que figuram nos consultórios de oftalmologistas. Além, jogador experientíssimo de diversos RPGs e Magic, The Gathering™ (ah, Miragem é que era edição de verdade), aluno terrivelmente aplicado, desses que levantam a mão pra perguntar durante a aula e pedem mais informação sobre o assunto ao final dela. E monitor voluntário do laboratório de biologia pelo simples gosto e prazer. Imagine a leitora que nada disso eu fazia escondido; nem sequer tentava disfarçar. Quantos garotos assim nerd você pegou durante a sua adolescência, cara leitora? Nenhum, é claro. Nossa única esperança era ter um cabelo legal -- cento e treze tranças não é pra qualquer um -- e nas férias viajar para onde nossa fama ainda não nos houvesse alcançado. Enfim, o que eu quero dizer é que durante o Ensino Médio, é impossível usar os miolos para compensar as canelas finas.

Então não era de se espantar que durante essa época eu achasse completamente possível haver amizade entre pessoas que se sentissem atraídas, exatamente porque, e a leitora já deve ter feito as contas, era o máximo que eu podia arranjar. Na tentativa desesperada de não perder inclusive a companhia do objeto de desejo, qual era o modus operandi? Dizer sim ao "nós podemos ser só amigos", passar super bonder no canal lacrimal, fingir que não doía nem um pouco, meter o sorriso na cara e ficar com aquele prazer masoquista de saber que a gente é forte o bastante pra se doer sim e não deixar ninguém perceber (o que é mentira, aliás. Todo mundo percebe, só não comentam contigo).

Enfim, meus dezessete anos acabaram. De repente, nerd is the new tesão, e aí? Bom, tudo o que você, leitor que era nerd -- e continua nerd, mas agora pega geral --, tem que imaginar que são duas pessoas na situação descrita acima, e você lembra como era, não lembra? Se o seu objeto de devoção mandasse, você obedecia, não é? Tudo porque lá no fundo você tinha a esperança de ouvir "Ok, você passou em todos os testes. Abaixe as calças agora". E você sabe que você abaixaria. Bom, imagine assim duas pessoas desesperadas por migalhas de atenção, caçando todas as migalhas que caem, e deixando escapar nas entrelinhas "eu sou seu, por favor, faça o que quiser comigo". Dá merda e morre gente, comandante. Como eu já disse por aí:

Começa com só vou sair junto, vai ter mó galera, não pega nada. E como não pega nada, mas a gente não conversou o suficiente, tudo bem, saímos só nós dois, a gente sabe que não pega nada. E daí, como a gente sabe que não pega nada, ué, passa a se encontrar mesmo em casa, se não pegou nada na rua, em casa também não pega nada. E assistir um filme juntinho, de mãos dadas, pô, eu faço com todas as minhas amigas, não pega nada. Bom, eu não beijo todas as minhas amigas na boca, mas foi só um beijinho, beijinho não pega nada, se ninguém ficar sabendo nem é traição. Transar no sofá é a mesma coisa. E daí que foram duas vezes seguidas? No mesmo dia? Conta como um erro só, né? Seria muito pior se fosse um final de semana todo, se esforçando pra conspuscar todos os cômodos da casa, e quem sabe um ou dois lugares públicos. Por isso eu vou viajar esse final de semana e não chamar ninguém, eu preciso ficar sozinho. O telefone? Imagine, eu ligo pra todas as minhas amigas só pra dar oi, pega nada.

E agora, um pouco de misoginia

Seria aconselhável à leitora deixar a postagem de hoje para lá. Nem se aperceber dela, esperar logo a de depois de amanhã; ou entender que esta não é uma entrada pessoal, é só um desabafo, desses que nós leitoros e escritoros fazemos nas mesas dos botecos sujos que freqüentamos; ou, no máximo, faz parte do meu objetivo de ofender o máximo de pessoas possível, e portanto, é tudo muito genérico e jocoso. Mas uma vez que eu fiz todos os avisos e pedi todas as desculpas, nós sabemos muito bem que as leitoras lerão avidamente até o final, e se amontoarão para deixar comentários furibundos.

Enfim, esta semana eu fiquei sabendo da estória de um amigo (eu sei, deveria ter um link pro blog dele, mas não me culpem, o desgraçado é um deletador profissional de blogs. E não, eu nunca vou te perdoar pelo jamaican water) que, para agradar a namorada, acompanhou-a ao videokê. Você, meu caro leitor, já deve ter feito algo do gênero. Você não gosta do lugar, não gosta do que acontece lá, sabe que não vai se divertir, mas leva a namorada, porque não custa nada fazer um agrado, porque a felicidade dela é mais importante do que tudo, porque... tá bom, parei de zoar. Porque existe a possibilidade de na volta ela o recompensar com um boquete cuidadosa e longamente executado. Sim, minha ingênua leitora que nem deveria estar lendo isso. É só por isso que seu namorado aceita tudo que você propõe: é esta pequena esperança que move a todos nós. Não houvesse, não faríamos nem trinta por cento dos passeios propostos. Agora que a senhora já sabe, por favor aumente o número de recompensa pra muito mais que os míseros três por cento padrão.

Bom, como é de praxe neste tipo de evento, não pode o herói do nosso causo se esquivar de cantar. Já que o estupro era inevitável, ele resolveu que o melhor era gozar, e após um longo exame da lista de possibilidades, encontrou uma canção do Elvis entre as opções. E cantou bem, cantou sem má vontade, e todas as tiazonas do videokê gostaram e aplaudiram. O nosso herói pode se sentar, e esperar para colher os da vitória. Enquanto estava no seu, agora, trono, as recém conquistadas súditas passavam, elogiavam, pediam mais Elvis (aparentemente, ninguém canta as músicas dele nos videokês da vida).

Qual foi a recompensa do garboso cantor? Uma bronca, uma terrível bronca. Afinal, ele não queria ter ido, ele não gostava e não gosta de videoke, o sucesso arrebatador foi claramente uma artimanha para estragar a noite agradável que a nossa heroína passaria.

E isso tudo me faz lembrar das palavras do poeta: Para nós, homens, é impossível ganhar uma discussão quando nós discutimos com nossas mulheres. Nós temos uma necessidade -- e como é toda necessidade, uma fraqueza -- que elas não têm. Nós temos a necessidade de fazer sentido.

The joke was on me

Como a leitora já deve ter ouvido por aí, final de semana que passou eu descobri o sentido da vida. E isso pouco importa, porque ainda assim foi um final de semana de excessos, e acaba de chegar a fatura do cartão de crédito cósmico: eu estou exatamente onde estava na semana passada -- lutando contra uma gripe que voltou porque eu não repousei o suficiente.

O. Sentido. De. TUDO.

E você não volta nem imune à gripe. Gente, é uó.

Prioridades

Eu descobri o sentido da vida este final de semana.

O. Sentido. De. Tudo.

E tudo o que eu consigo pensar é em criar mais um blog, só pra falar disso.

Elogio ao Divino

(porque todo mundo tem pelo menos um nome gay)

Não adianta, caro leitor. Eu já desisti de lutar: Ele é mesmo o assunto da semana. A postagem de hoje, entretanto, quase se encaixa naquele gênero que os nossos avós gregos (há, imagine o tamanho do vitupério se eles soubessem que este negrinho se auto-intitula neto) chamaram de elogio.


Os Seus fãs costumam dizer que ele escreve certo por linhas tortas. Estilística e esteticamente, eu confesso que gosto do ditado; por questões pragmáticas, eu prefiro empregar a forma "ninguém é tão escroto que não possa oferecer nada de bom ao mundo". Moldado a Sua imagem e semelhança, Seu povo é tão Escroto quanto; a mera permissão da continuidade de sua linha de pensamento gera um atraso de mais de mil anos nos direitos humanos e nas liberdades individuais, pelo menos. Mas hoje eu estou feliz, hoje eu dormirei mais tranquilo, porque eu sei que as linhas tortas tirarão votos do DEMO!



clique na foto para compartilhar de meus espanto e alegria

Ele está no meio de nós

O leitor mais atento já deve ter reparado -- não há problema nenhum, leitor menos atento. Eu também não repararia neste tipo de coisa; saudamo-nos!, nós que estamos entre os desligados --, mas se não reparou, dedo-me agora: eu coloquei um serviço de Adsense neste espaço.

Não é necessário se preocupar, cara leitora, pois eu juro solenemente que não colocarei os interesses do capital a frente dos nossos interesses, a saber: o meu é reclamar, falar palavrão e desopilar o fígado; o vosso, passar alguns minutos agradáveis lendo minhas reclamações e demais bobagens. A leitora deve-se lembrar, entretanto, que estes são tempos difíceis, e portanto me perdoar por tentar descolar algum.

Aliás, se a leitora tem um gosto pela doce vingança, pode levantar os cantos do lábio. Porque embora ainda não tenha me rendido sequer um putinho, já me cedeu material para reclamação, logo, material para vossa leitura. Enfim, caros leitores, contemplem a ofensa:


Eita porra!

Sim, meus leitores! Deus é um viado, e um viado à espreita. Ingênuo sou eu, que achei que poderia escrever tudo o que escrevo sobre ele e sair impune, garboso e faceiro. De uma cajadada só, o Senhor derrubou quatro ou cinco coelhos. Primeiro, maculou este lugar com Sua presença, coisa que eu consegui passar seis meses sem fazer. Segundo e terceiro, tirou um sarro de vocês, meus leitores, e ofendeu a mim, vosso escritor. Quarto, nenhum dos meus leitores clicará neste tipo de propaganda, e eu continuarei sem um puto. E cinco, Vossa Onisciência está consciente do fato de eu não saber ficar quieto, de eu não conseguir me controlar, e aqui estou eu, reclamando e usando Seu nome em vão, o que vai fazer com que aumente Sua presença entre as palavras-chave e BUM! Prevejo uma invasão de mais propagandas assim durante a próxima semana.

Misericordioso é o caralho, falaí?


Update


Contribuição dos leitores:


Clique na foto para fazer sentido

A frase a seguir é falsa. A frase anterior é verdadeira.

Não há nada mais mentiroso que aquela frase de efeito que diz que a verdade vos libertará, caros leitores. A única verdade que presta mesmo é essa que eu lhes revalerei agora: só a mentira liberta. A verdade? Não, a verdade exige compromisso, a verdade dá esperança, a verdade amaldiçoa quem a profere. Uma vez que você deixa de omitir, uma vez que você não modifica um fato, uma vez que você não aumenta um ponto, pronto! Experimente, leitora, e você ficará marcada para todo o sempre. Esperar-se-á de você nada mais que a verdade, somente a verdade, com a ajuda de Deus. Convenhamos, é muita responsabilidade e péssima companhia.

É sabido por nós que a verdade fere, magoa, afasta. Ainda assim, nos fizeram acreditar que ela é mais nobre e mais importante, que só com a verdade é que se pode chegar ao pleno viver. Lorota! A verdade é anti-prática; requer muito mais esforço que a mentira, e nem chega perto de oferecer os mesmos resultados. E para quê? Só para aquela soberba de se sentir mais honesto, mais humilde, menos pecador, mais correto. Não, a verdade é a mãe de todos os pecados. E a mentira? A mentira é protetora e acolhedora! Ela impede que os amores acabem e que os amantes se machuquem. Aproxima os amigos e protege as amizades nas horas negras. Ora, porque usar um "não quero te ver agora" quando um "tenho que fazer um negócio" cabe igualmente e é muito menos danoso?

Nós mentimos por prazer, nós apreciamos a mentira pelo deleite estético! As artes? A pintura, a literatura, a escultura, a música... todas as grandes artes, e até o cinema, são desdobramentos da primeira arte, a mentira. Algumas querem enganar mais alguns sentidos que outros, fato, mas a mentira só quer saber da beleza da vida! Tomemos o exemplo da música, leitores! Que é a música senão a arte de mentir os ruídos em notas em ritmos? De transformar o incômodo em aprazível? A verdade, essa maldição, só quer fazer enfeiar.

Ela tem a pretensão de revelar a realidade. Quem precisa disso quando se tem o poder de moldar a realidade? Pense bem, minha douta leitora. Isso a que chamamos realidade é nada mais que a categorização lingüística da nossa percepção, não concorda? Se o mecanismo de categorização muda, muda a realidade -- nem o arco-íris está salvo: ele pode ter sete, seis, duas cores! Por isso Deus abomina a mentira, ela é o meio pelo qual nós utilizamos os dons dos quais Ele prentendia ser único dono -- criar e modificar realidades.

Então mintamos uns aos outros, leitores! Olhemos-nos uns nos olhos dos outros e mintamos, sabendo que o fazemos com cumplicidade e amor. A verdade? Reservaremos aos nossos inimigos!

Abaixo a verdade!

Da ofensa

Você, leitor fiel que acompanha meu blog há tempos, provavelmente reparou que eu não venho escrevendo muito por aqui. Afinal de contas, se você é meu leitor mesmo, provavelmente nós já conversamos sobre isso, porque vamos encarar a realidade: só quem me conhece e fala comigo no msn deve passar por aqui, uma vez que divulgação nunca foi o meu forte. Mas divago, este não é o assunto do post de hoje -- que pode ser o post de hoje, da semana, do mês, e até, do trimestre, a depender da falta de inspiração que me acomete; não repare, ainda divago.

Para chegar ao assunto desta postagem, devo dizer que eu ando enfastiado de internet, principalmente no que tange à interação online depender da minha argumentação. E devo dizer que tudo isso é culpa da terra prometido dos idiotas, energúmenos e analfabetos funcionais, aquele sítio da desgraça cujo nome nós conhecemos por Orkut. O leitor malandro, que já dominou o meu estilo, provavelmente já entendeu que argumentação e idiota de Orkut são termos excludentes, e mais provavelmente nem terminará de ler este parágrafo, porque sabe que eu aconselharei a quem já entendeu o que se passa pular o próximo parágrafo, onde eu explico melhor a situação para quem não está a par dela. Pois bem, é isso mesmo.

Enfim, leitor tolo e esperançoso de encontrar informação relevante neste parágrafo, parece impossível -- eu mesmo nunca havia pensado nesta possibilidade até tempos recentes --, mas é necessário um certo grau de inteligência, perspicácia, experiência, repertório, ou simancol para perceber que um argumento acachapante destruiu sua linha de argumentação e as suas únicas opções são deitar com os quatro membros para cima, oferecendo seu pescoço desprotegido, enquanto esganiça um choro de perdão; ou cometer harakiri. Pois bem, meu leitor. Se você, como eu, adentrou no orkut em seus primórdios, sabe que a interação baseada na escrita simplesmente filtrava o pessoal que não considera esta ferramenta exatamente uma utilidade. Os poucos infelizes que passavam pelo filtro da escrita simplesmente se tornavam figuras folclóricas conhecidas em um ou mais círculos sociais virtuais, e geralmente eram tolerados até a hora que a graça de seu pobre desempenho se esvaía pela repetição das ogrices, quando então o dono (ainda não havia mediadores) excluía o indivíduo da comunidade.

Perdão, meu leitor malandro, o parágrafo anterior não saiu exatamente como eu planejei. É aconselhável que você pule este também. Pois bem, o que acontece, de uns tempos pra cá, é que a interação baseada na escrita não funciona mais como filtro. Um número muito grande de analfabetos funcionais invadiu as comunidades em que eu me divertia exercitando minha capacidade de argumentação em embates retóricos desnecessários e infinitos, e expulsou os membros que se divertiam com essas futilidades como estilo ou sentido. De uma hora para a outra, o insight, a perspicácia, a lábia, a ironia perderam sua força tal qual fosse impossível queimar alguém que não soubesse o que é o fogo. A repetição de um trecho seguida de um número entre colchetes, o vomitório de adjetivos, o senso comum, a auto-afirmação mascarada de indiferença, tudo isso ganhou força pela única vantagem que os idiotas têm e sempre terão sobre nós: a vantagem numérica.

E onde eu quero chegar?, perguntam-se leitor experiente e leitor ingênuo, ambos impacientes -- e com razão, eu diria. Ora, que isto é muito mais ofensivo que "seu lugar é chupando pica suja de traveco". É muita energia gasta organizando o seu texto, escolhendo o vocabulário para o tornar aprazível, são insights criativos que poucos teriam, o texto opositor é tão obviamente cheio de falhas que é por demais ofensivo o uso de qualquer um dos artifícios citados acima. Se tal empenho não merece a vitória numa contenda, merece ao menos que seja derrotado por esforço e ou criatividade pares aos empregados. Portanto, leitor, é mais que compreensível -- além, mais que aconselhável: é imprescindível que você responda com uma ofensa de sua preferência a tal disparate.

Não só pelo dever moral, mas principalmente porque é a única coisa que o interlocutor estapafúrdio -- não se enganem, logo ele será o medíocre da internet, e não nós (para onde nossos ídolos correrão?) -- chega perto de entender. Aliás, infelizmente é preciso dar esta dica: sim, até na ofensa, você precisa tomar o cuidado de o dar a chance de perceber que seu texto é ofensivo. Se você, como eu, leitor, por vezes se esforça para que até a sua escrita superior seja uma ofensa, muito cuidado. Mais vale adicionar um "e, portanto, eu comi aquela velha gorda da sua mãe", para ter certeza de que o objetivo será atingido com sucesso. A graça disso? Você verá os seus debatedores falharem tanto em construir frases tão espertas quanto as suas, quanto em realmente lhe ofenderem.

Mas ajuda ter o botão banir membro a seu favor, pra quando você enjoar.