A volta dos que não foram¹

Olá, cara leitora espantada. Eu imagino que você tenha aberto esta página só para lembrar o que aqui acontecia e, de repente, quem diria?, nova desatualização. (veja só como sou dissimulado: ao ler estas primeiras linhas, quase que certamente a leitora esquecerá que eu estou fazendo propaganda da nova postagem no msn, no orkut, no twitter, na wikipedia, e sabe-se lá mais onde a internet 2.0 permita)

Tenho cá dois motivos que, espero, a convençam a perdoar minha negligência para com este espaço. O primeiro deles é que, agora já passado mais de um ano da viagem, minha memória começa a falhar. E, para o texto, isto é muito melhor: deixo o cérebro preencher as lacunas, e não mais preciso ficar tão preso a detalhes menores, como a verdade factual dos acontecimentos, que como sabemos, pode ser muito inconveniente tanto ao leitor quanto ao escritor: uma conclusão mais correta e divertida dos acontecimentos, uma tirada de enriquecer o repertório ter que ceder lugar a algo mais chato e monótono pela bobagem de apenas não ter acontecido.

O segundo motivo é que finalmente tenho milhões de coisas a fazer. Eu poderia estar estudando, poderia estar revisando, mas estou cá escrevendo. E também ando um pouco enfadado de kobolds e quetais. Assim sendo, apresento-lhes aquela maravilhosa:

Terça-feira (acho), (provável) 13 de janeiro

Conforme dito há muito tempo atrás, numa galáxia distante, nós já sabíamos como chegar ao Mercado Modelo, e sabíamos quem deveria pedir informação sobre ônibus. Pois bem, foi isso mesmo que se sucedeu: caímos na cara do elevador Lacerda sem grandes aborrecimentos.

Claro, meu aborrecimento viria a seguir: achei o lugar muito pra turista ver. Caro, gente fantasiada de baiano, lotado de gente, com turista saindo pelo ladrão. O problema não sou eu, claro, que como já percebeu a leitora, sou muito legal. Mas já disse o feio filósofo: o inferno são os outros. E eu complemento dizendo: os outros, principalmente o nosso irmão. Que, obviamente, amou o lugar, andou por todas as barraquinhas, experimentou instrumentos, tocou, soprou, batucou. E comprou um monte de coisas, bem para o desespero de uma das comentaristas deste espaço.

Aquele monte de pacotes, especialmente aquele comprido e incarregável, criava uma dificuldade para a família: como continuar nossa turistagem por Salvador sem ter que carregar uma sacola em cada mão e uma na cabeça? Para nossa sorte, os vendedores locais eram extra-simpáticos, e permitiram que deixássemos nossas singelas tralhas estocadas num canto de uma barraquinha.

Movemo-nos então para a Feira de São Joaquim, e agora sim, cara leitora, eu realmente começava a apreciar a viagem. O lugar é pé no chão e barro entre os dedos, nada daquelas frescuras de normas sanitárias, direitos dos animais (nem, quiçá, direitos humanos). O lugar vende temperos, farinhas, camarões, pombas e até cabras. Sim, cara leitora impressionável: pombas e cabras para, como dizem naquele concessionário de rede televisiva nacional, bruxaria na casa de magia negra. Na máxima expressão da última flor do lácio, inculta e bela: achei foda pacaraio. E ainda voltei carregado de farinha, massa para acarajé, camarões secos e duas moringas. As moringas, fique claro, escolhi pelo meu interesse em padrões decorativos pós-geométricos.

Acabadas as compras, apresentou-se novo dilema: onde comer? E, já cansados das andanças, resolvemos que o melhor mesmo era voltar ao Mercado, rejuntar nossas tralhas, e ficar pelo restaurante do piso superior mesmo. E ninguém adivinharia que esta seria uma sábia decisão: o restaurante era bom e o preço era justo! Na verdade, eu posso chamá-lo de barato, visto que uma feijoada baiana para duas pessoas era o mesmo preço do prato para uma pessoa do restaurante do hotel. Enfim: eu indico e garanto.

Após a esbórnia alimentícia, voltamos para o hotel, onde fomos curtir uma piscina. Dona Ligia ficou puta da cara, porque Frê resolveu praticar alguns mergulhos e outras evoluções aquáticas enquanto ainda estava de barriga cheia, mesmo contra a advertência materna. Entretanto, minha impressão é que grande parte de seu nervosismo advinha mesmo era do fato de Frê não ter morrido, ou sofrido sequer uma congestãozinha. Desobediência demais para uma pessoa só.

E assim se passou nossa terça-feira, cara leitora. No fim das contas, não inventei nada de extraordinário para o dia. Juro que a memória me ajudou para tal -- e muito. Entretanto, se me sobrou vontade de inventar, quem me falhou foi on engenho.

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1. Lima, Jurandir Pereira. in: minha infância inteira.

5 comentários:

Quéroul disse...

aliás, minha morAnga ainda não me pertence.
e até hoje me magôo por não ter ganho uma galinhazinha sequer...

até o ano que vem para a conclusão desta viagem.

très julie disse...

HAHAHAHAHAHAHAHAAH! hoje deve ser o dia mundial de gente que sumiu dar as caras no blog, pra ninguém usucapir nosso espaço.

e gente, já estou nervosa com o berimbau (você não disse o nome mas eu entendi tudo). anos e anos de esteiras de aeroportos vendo os berimbaus sendo cruelmente renegados por quem os adquiriu, até que TODOS tivessem pego suas malas e se picado. porque sério, é o king kong turístico levar berimbau de lembrança de salvador, na minha humilde e nada tolerante opinião.

choquei que já faz um ano que tudo aconteceu. e nesse ritmo de postagens (que, ressalte-se, você NÃO adquiriu na bahia), quando chegar na minha participação na aventura, eu já vou estar lindamente empossada como juíza em alguma seção ou sub-seção judiciária federal por este brasil afora. e essa temática "viagens" me lembra que eu devia contar algumas pérolas que os turistas têm que aturar nesta aprazível, segura e fresca cidade nordestina a qual eu habito.

marcela primo disse...

§

Você fez isso pra gente ter que reler os posts anteriores um ano depois, só pode ser...

§

Emil disse...

Olha, é uma boa idéia, Marcela! Vou começar a reviver temas antigos!

très julie disse...

amore, eu acho que a gente se encontrou quinta e sexta (estou supondo que você não passou várias quintas e várias sextas aqui - isso porque eu não sei o dia do mês).