Enfim, Salvador

Ainda Sábado, 10 de janeiro.

Após um vôo de duas horas que durou só uma -- fato que me fez completamente mudar de idéia sobre o horário de verão -- estava eu, finalmente, na terra dos meus antepassados. Saí de São Paulo de maneira clichê: tempo feio, garoinha, cheguei em Salvador clichê: solzão e quente pra caralho. Valeu ter planejado ir de bermuda, mesmo tendo perdido hóóóras preso no detector de metal.

Enfim, agrupamo-nos junto ao guia da companhia de viagem (companhia cujo nome não será dito agora, porque eu não quero fazer nenhuma propaganda que não seja extremamento negativa -- o que será muito fácil, devido às cagadelas futuras que aqui relatarei, prometo, em breve), e, após apenas um pequeno engano quanto às informações prestadas (digo apenas porque, descobri depois, um é muito abaixo da média diária que a companhia apronta com os seus turistas), entramos num ônibus e nos dirigimos ao hotel.

Tenho que dizer: bonito demais. No caminho do aeroporto até o primeiro hotel em que o ônibus pára é possível observar diversos bancos de areias e dunas, lindas casas, um belíssimo horizonte... Enfim é com muita beleza que Salvador nos recepciona. Se tivesse eu uma câmera, juro que batia umas fotos. Faço uma pausa para que a leitora mais romântica possa imaginar o caminho, e para que a mais prática posso googlar algumas imagens.








imagine com força








Como eu dizia, paramos no primeiro hotel, e, eu que sou ateu convicto, pedi forte "Por favor, Deus, não permita que este seja o meu hotel". Deve pensar o leitor experiente em viagens "Devia ser uma espelunca", e se pensou isso mesmo, então pensou errado. Na verdade, era o esquema mais patrão que eu já vi: ficava mesmo na praia, de frente pro Atlântico, não precisava nem atravessar a rua -- até porque quase não tinha rua. Não tinha cerca, não tinha parede pra separar das casas em volta, não tinha nem casas em volta, e era justamente esse o meu medo: ficava muito longe mesmo da cidade de verdade. Sabe, hotel pra quem está em lua de mel, só quer saber de pôr até as partes pegarem fogo (com a vantagem de ter o mar ali pertinho pra apagar e refrescar), e volta dali a quinze anos, se ainda estiver junto, pra ver a cidade histórica, mas grandes coisas, gostei mais da primeira vez. Bom, dei sorte, não era mesmo meu hotel, o ônibus tocou dali comigo dentro respirando aliviado.

A segunda parada, sim, foi a do nosso hotel. Gostei muito: pertinho da orla da praia, vários pontos de ônibus em volta, mais cara de cidade mesmo. O hotel ficava em cima de um morro, o que dava uma vista espetacular do mar, e juro, um dos horizontes mais belos que eu já vi nessa vida. Sério, era tão ampla minha vista que dava pra sacar que o mundo era redondo. E azul, como era tudo azul!

Pausa para imaginação.

Bom, o posicionamento do hotel trazia uma pequena desvantagem: pra chegar na porta de entrada seria preciso enfrentar duas putz ladeiras, daquelas de quarenta e cinco graus, uma mais curta, outra mais comprida. E sim, a mais comprida era a mais inclinada. Mas o guia pareceu ler as preocupações que rondavam minha cabeça, e prontamente respondeu, com aquele sotaque tão característico e arrastado: "Quanto à ladeira, não se préocupém nãão. Havia um funiiculahr para levar os hóspédes até lá ém cima, que está ém manuténçãão. Mas o hótel tem mótóristas que fazem o sérvííço agora". Aliás, vale notar: quase ninguém fala assim arrastado, tudo mentira essas novelas. Que há sotaque, há, sem dúvida, mas devagar assim, só um a cada cem, chutando alto.

Enfim, entramos porta adentro, paramos na recepção e começou nossa relação de amor e ódio com o hotel. Meu quarto, que eu dividiria com Frê, estava pronto, mas o quarto de meus pais ainda estava sendo arrumado. O moço da recepção então nos entregou a chave do quarto pronto (que eram aqueles cartões magnéticos, acho super chique), as comandas da famíla, e sugeriu que esperássemos por lá. Quando o quarto estivesse pronto, o mensageiro nos avisaria.

Dirigimo-nos até o meu quarto, e descobrimos que os nossos quartos ficavam no andar mais baixo do hotel. Pra piorar, o elevador só subia, o único acesso possível era enfrentar três lances de escadas. O que não é muito ruim, salvo se você estiver cansado devido ao vôo e ao ônibus, e os carregadores do hotel decidirem que sua bagagem não é problema deles.

Carregamos nossas tralhas corredor e depois escada abaixo, entramos no quarto, pagamos um pequeno mico porque ninguém sabia como ligar a luz -- mas a moça que limpava nos ensinou: tem que colocar o cartão magnético (isso, aquele mesmo, que serve como chave) no input de luz (gente, muito luxo!) --, e ficamos esperando o mensageiro avisar que outro quarto estava pronto. E esperamos, esperamos, esperamos...

Aí enjoamos de esperar, e pensamos "cacete, estamos em Salvador, gente! Vamos esperar andando na orla, conhecendo o pedaço". Subimos para deixar a chave e as comandas na recepção, e surpresa! O quarto já estava pronto há um tempão. Aparentemente, mandar o mensageiro significa "se virem". Mas mesmo assim, o plano era bom. Descemos a pé a rampa do hotel (descida, todo santo ajuda), e fomos dar uma volta nas redondezas. Que parecia cidade, mas só parecia. No fim das contas, este hotel também era longe de tudo, só parecia perto. Tinha umas barraquinhas na praia, mas nada demais. E como estávamos com dona Ligia, nenhum lugar ali era limpo o suficiente para jantarmos. Após uma água de coco, e a pequena decepção de estar longe da cidade de verdade (tudo bem, havia pontos de ônibus, e havendo transporte público, eu me viro fácil), voltamos para jantar no hotel.

O leitor de boa memória (afinal, quantos parágrafos já se passaram?) se deve lembrar que o guia nos informou que os motoristas do hotel levavam os clientes até a entrada, lááá em cima. Mas faltou passar essa informação aos motoristas do hotel. Basicamente escalamos até a recepção. E, para finalizar o dia, comemos um jantar over-priced, demos uma olhada nas dependências do hotel e fomos dormir. Sem problemas, o dia seguinte era domingo, estaríamos descansados, e a viagem começaria pra valer.

3 comentários:

cowy disse...

diário de bordo!

Quéroul disse...

salvador terror.
e foi só o primeiro dia.
finalmente.

très julie disse...

só dando minha opinião: depois de ficar dias e dias no fuque-fuque, água do mar não refresca nada: faz arder, o que não é nada gatinho.

e eu me emocionei com a descrição da chegada. e você ainda ganha 1000 pontos porque adorou a feira de são joaquim!